Recuperação - Assim de repente, para que serve?

30-04-2018

Uma espreitadela rápida à pertinência do uso de estratégias de recuperação, sejam elas quais forem.

Atentemos no seguinte gráfico:

Retirado de @Luís Mesquita - Fisiologia do Exercício

Este gráfico descreve a influência que um estímulo (neste caso, o treino) tem no organismo

No eixo horizontal temos o tempo; no eixo vertical temos a magnitude das alterações causadas pelo estímulo. Assim sendo, a linha do gráfico reflete o comportamento das alterações à homeostasia provocadas pelo treino, com a variação do tempo.

É hoje sabido que, independentemente dos príncipios que se procura manipular para atingir determinado fim, uma das variáveis mais importantes a ter em conta na prescrição de exercício é o volume do plano de treinos. Este volume implicará, necessariamente, um dispêndio de energia e a fadiga induzida no indivíduo será tanto maior quanto maior for o volume aplicado.

É possível observar e é universalmente aceite que a janela temporal com efeitos positivos do treino é maior que a mesma na qual se verificam ainda consequências detrimentais causadas pela fadiga. 

Desta forma, se pretendermos que o atleta volte a treinar sem estas, teremos de esperar mais tempo; isto, para além de nos permitir treinar menos no mesmo tempo, com o passar deste também torna os efeitos positivos do treino anterior apenas residuais. 

Então, a questão é ser capaz de se olhar para este gráfico e refletir sobre qual seria então o momento ideal em que o eustress da otimização de performance é alto o suficiente para se voltar a treinar, sem se ter a influenciar o distress causado pela fadiga acumulado do último treino e, depois disso, ser capaz de o antecipar o mais possível. Isto implica que se possa voltar a treinar mais cedo.

Por outras palavras, é tentar otimizar o treino ao acumular mais volume, no mesmo espaço de tempo.

É aqui que entram as estratégias de recuperação.

Estas podem então melhorar de forma indireta a performance por duas vias:

  • Inibir mecanismos de produção de fadiga em períodos de competição - aquele que é o objetivo mais referido por atletas e equipas técnicas para a sua utilização .
  • Influenciar os outcomes das sessões de treino, ao permitir acrescentar volume por unidade de programação de treino, o que potencia o seu treino e, consequentemente e a longo prazo, melhora a sua performance.

Independentemente de estarmos a falar do uso de foam roller, da massagem, da crioterapia ou de medicação, - cujas efiácias enquanto método não estamos aqui a avaliar - podemos então concluir que uma reflexão profunda e a adoção de estratégias que procurem diminuir a fadiga devem ser práticas obrigatórias de um Departamento Médico.

"Não custa implementar estratégias de recuperação, independentemente do orçamento. O que custa mais, muitas vezes, é perceber o que podemos fazer com os recursos que temos - porque o que fazer, haverá sempre. O que pode não haver nos meios mais pequenos é não se estar disposto a dispender muito tempo a pensar nisso. "


Dr. Nélson Puga @ VII Curso de Medicina Desportiva da aeFMUP

 
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