O Fisioterapeuta na Reabilitação em campo

11-04-2018

Na fase final da recuperação do atleta, faz parte das funções do Fisioterapeuta a reintegração do atleta no treino. Que forma, e que características, deve ter este processo de retorno ao treino? Que qualidades e preocupações deverá ter o Fisioterapeuta para se evidenciar nesta perspetiva?

Terminada a cicatrização dos tecidos, estruturalmente apto, mentalmente disponível e anímicamente motivado, o atleta está prestes a ter alta clínica para o regresso ao treino com a equipa. Mas esse atleta esteve 3 meses parado e está à espera de uma reinserção gradual junto do processo de treino.

Assim, até este ponto do processo, o Fisioterapeuta recorreu à Terapia Manual, ao seu conhecimento em Eletroterapia, à prescrição e acompanhamento de exercício terapêutico, promoveu a adesão terapêutica, utilizou estratégias em ginásio para aumentar força e diminuir o receio do atleta, potenciou ferramentas para o atleta perceber a dor e aprender a geri-la, etc. Ou, a bem dizer, em vez de tudo isto, recorreu a quaisquer outras  estratégias que o mesmo considere úteis ou nas quais se baseie de forma sustentada e empírica.


O atleta depara-se então com a questão "já vou regressar aos treinos?".

Mais uma vez, neste processo, o Fisioterapeuta é fundamental ao estabelecer parâmetros e critérios através dos quais vai avaliar a progressão do atleta e que vai utilizar para guiar a sua reinserção.

Então, podemos sugerir algumas competências específicas que o Fisioterapeuta deve demonstrar e preocupações que este deve ter de forma a planear o regresso à atividade de determinado atleta:

- Gestão da dor: é um processo muito discutido aquando da reabilitação, Há quem diga que a dor é um semáforo, e que deve ser encarada como tal, guiando os avanços e recuos do processo de reabilitação, mas que esta é parte integrante do mesmo. Outros defendem que a neurotag responsável pelo aparecimento da dor não deve ser reforçada. Dependendo da abordagem de cada um, esta deve ser coerente; para além disso, deve ser sempre transmitido ao atleta o processo pelo qual este está a passar, continuando este a ser a parte (mais) interessada na recuperação e o seu foco central.

- Características do atleta: o indíviduo a finalizar a reabilitação é um guarda-redes ou um jogador de campo? É um defesa ou um avançado? Joga nas alas ou no terreno central? É líbero ou oposto? É central ou ponta? É corredor de fundo ou sprinter?
Todas estas variáveis devem ser tidas em conta quando se reintegra um atleta. Na fase anterior do processo, dever-se-á aumentar a força máxima independentemente destas dinâmica inter-individuais, contudo a sua expressão em campo terá necessariamente de ser diferente.
Desta forma, é fundamental que o Fisioterapeuta Desportivo tenha um conhecimento detalhado acerca das dinâmicas técnicas e táticas do desporto em que está inserido!

- Organização e planeamento: os registos são fundamentais na área da saúde. Neste contexto desportivo, os registos, mais do que fundamentais para nossa salvaguarda, são essenciais para a nossa organização - estando sujeitos a diversos estímulos e uma variedade enorme de tarefas, a planificação do treino do atleta que está a regressar permite-nos situar-nos no espaço e no tempo, gerir os recursos necessários quer físicos, quer temporais, e passa ao atleta uma ideia de clareza e objetividade.

- Cognição e comportamento tático vs requisitos físicos específicos: Como discutido no primeiro ponto, é fundamental ter em conta os fatores individuais do atleta. Mas de que forma?

Estamos perante um jogador que predominantemente ataca ou defende? Está sujeito a muitas mudanças de direcção ou deslocamentos frontais? Salta muito ou deve estar mais preocupado com a qualidade do seu posicionamento em campo?

Se atua no processo defensivo, qual a importância do posicionamento inicial na sua atividade em campo? Costuma defender zonal, ou homem-a-homem? Movimenta-se independentemente ou em função de algo ou alguém?

Se atua no processo ofensivo, toca na bola muitas vezes, com muito tempo? Ou poucas vezes, mas nas quais deve desequilibrar? Costuma ter muito ou pouco tempo para decidir? É importante a precisão ou a potência do seu ataque? Deve interpretar o movimento coletivo ou individual da sua equipa, ou da equipa adversária?


Todas estas questões devem ser analisadas e o plano de reintegração deve tê-las em conta. 


Então...

... se já foi ultrapassada a fase de regeneração tecidular, ganho de força máxima, aumento da performance física e preparação psicológica e motivacional, devemos perspetivar agora se estamos a reintegrar no futebol um lateral-esquerdo rápido que cruza muitas vezes, no voleibol um oposto que salta frequentemente, ou no andebol um pivô que deve fazer muitas rotações com pressão, uma vez que a prescrição do plano de reintegração em campo deverá ser diferente e deve obrigar o atleta a rever os processos cognitivos de colocação em campo, reprogramar o seu plano motor em função da bola, colega e adversário, tirar progressivamente tempo de decisão e reação, e potenciar o seu regresso a uma metodologia de treino gradualmente cada vez mais semelhante à da equipa em que está inserido; todos estes processos vão auxiliar a criação, ou re-criação, de automatismos que irão promover uma adaptação mais rápida aquando da entrada em campo com os colegas, e reduzir a probabiidade do aparecimento de recidivas.

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