Nova Aventura
Agora que parto numa nova aventura (!), é uma boa altura para revisitar algum do contributo que fui tentando deixar ao longo das etapas que passaram e que, agora que abandono o futebol profissional, fica para trás. Este material poderá eventualmente ser útil para fisioterapeutas que trabalham (ou tencionam vir a trabalhar) em contexto desportivo.
Teria todo o gosto em que pegassem naquele que deste material vos parece interessante, e o reinventassem e levassem para a vossa prática diária. E já agora, porque não, partilhar o resultado!

Quando entrei no Futebol Profissional, uma das coisas que achei importante era um Departamento Médico ter uma Cultura e Filosofia de trabalho. Neste sentido, procurei elaborar um documento, não só para guiar a prática interna, mas também para explicar, de forma simples, a SAD e equipa técnica, os valores pelos quais o Departamento Médico se guiava. Isto assumiria particular importância, por exemplo, em casos de troca de Equipa Técnica, em que é importante estes ficarem familiarizados com a forma de trabalhar já instituída, conferindo uma personalidade forte à entidade clínica (personalidade esta que deverá, depois, tentar incorporar os princípios trazidos pelo novo treinador e respetiva equipa).
Deste documento constam a Missão do Departamento, assim como as Propostas a realizar para a atingir.
A certa altura, foi necessário reabastecer o Departamento Médico com material que vai continuamente sendo gasto.
Neste sentido, realizei um inventário de forma a fazer um levantamento de necessidade, após o qual compilei uma lista de mamterial que seria necessário adquirir. Para esta foi realizado um orçamento onde, após prosepção de mercado, se selecionaram os materiais cujo custo-benefício era melhor, e foram também estabelecidas prioridades de forma a que o clube pudesse gerir, de forma mais confortável, os gastos associados.
Ao longo do tempo venho tentando levantar a necessidade do Fisioterapeuta começar a investir mais nos registos que realiza uma vez que, mesmo que tenha uma capacidade de trabalho acima da média, se não for igualmente competente e eficiente nos seus registos, acabará por se perder no processo (ainda mais quando, como me aconteceu esporadicamente, havia diversos casos ao mesmo tempo).
Neste sentido, desenvolvi uma ficha para Episódio de Lesão, a ser preenchida a cada evento lesional. Para além da Avaliação em Fisioterapia, nesta constava a necessidade ou não de realizar MCD's e a perspetiva de intervenção em Fisioterapia de forma global, com o estabelecimentos dos objetivos gerais e secundários.
Anexada a esta, estava o plano Detalhado de Intervenção. Nesta folha era feito o registo diário do trabalho a realizar, de forma a que quando chegasse a altura de trabalhar com um atleta, fosse mais fácil consultar aquilo que havia pensado para determinada sessão.Uma vez que, naturalmente, houve ocasiões em que foi necessário repensar a sessão e adptá-la à condição do atleta (ora para acrescentar ou retirar trabalho), esta poderia ser reescrita após a sessão. No final, passava a haver quase um "Diário" da reabilitação.
Por fim, já na fase de final de reforço, Return to Play, ou após ter regressado, era frequente o atleta ficar com um plano individual de reforço para melhorar a condição global.
Por este motivo, e de forma a simplificar o trabalho ao Fisioterapeuta não só no acompanhamento mas também na prescrição, era preenchida uma ficha de plano individual, revista a cada duas semanas consoante a perceção de esforço do atleta.
De forma a agilizar a comunicação com a equipa técnica (e, mais uma vez, a deixá-lo registado por salvaguarda própria), foi preparado um documento com os atletas que haviam sido alvo de intervenção concreta antes do treino, com o respetivo motivo e o feedback sobre se iriam ou não treinar e, se sim, se estavam sujeitos a algumas limitações em particular (e quais).
Uma sensação que me surgiu como pertinente era a de monitorizar o estado e a fadiga dos atletas, uma vez que dava frequentemente por mim a perguntar aos jogadores que haviam referido alguma queixa no dia anterior como se encontravam (e muitas vezes, naturalmente, eram vários). Em contextos onde não existem meios eletrónicos para o fazer, fica difícil obter este feedback de forma global.
Para ultrapassar esta lacuna, elaborei uma ferramenta de monitorização que deveria ser preenchida previamente ao pequeno-almoço. Após este, e já com todos preenchidos, eram avaliadas as respostas e, após estabelecido o cut-off de 6 pela equipa técnica, qualquer valor acima disso era discutido com o atleta e comunicado à equipa técnica, permitindo otimiza a gestão do treino.
Porque nalgumas ocasiões nos plantéis há a presença de atletas estrangeiros ou os jogadores podem ter dificuldade a preencher este tipo de documentos, foi realizada uma breve explicação e afixada junto das folhas para preenchimento.
Um dos objetivos de todos estes registos era ter material para o benchmarking da Fisioterapia, ou seja, ter um produto que pudéssemos vender que nos valorizasse, ou que pelo menos nos desse uma perspetiva daquilo que poderia ser melhorado.
Nesta perspetiva, a assiduidade dos atletas e os respetivos motivos de ausência eram registados em Mapas Mensais e Mapas de Presenças, que a cada três meses dariam um Relatório Trimestral (que é impossível partilhar por motivos de confidencialidade).


Por fim, todos os dados obtidos ao longo do ano e os Relatórios Trimestrais deram origem a um Relatório Anual de Lesões, de onde constam caracterização do plantel, e alguns dados estatísticos de assiduidade, ausência e as respetivas lesões.
A estadia no Futebol Profissional
Peak/CMM

No final da temporada 2018/2019 surgiu uma proposta para integrar um projeto do CMM (https://www.cmm.com.pt/) que visa liderar e coordenar a Unidade de Fisioterapia Desportiva e Performance, criada em conjunto com a Peak (https://thepeak.pt/) (antigos Centro de Treino os Jesuítas).
Neste projeto, assumirei o papel de liderança e coordenação das áreas de Reabilitação e Perfomance Desportiva, estando ainda associada à capacitação e aumento de eficiência do serviço de MFR e Fisioterapia.
Dispondo de instalações de excelência com uma série de ferramentas que permitem a avaliação quantitativa e a utilização desses dados para a prescrição de programas de reabilitação e treino, a parceria CMM/Peak surgiu como uma oportunidade praticamente irrecusável.
Um espaço que aliará a Cultura de Treino à Ciência, e que vai primar pela exigência e profissionalismo.

O bichinho
Mas então e o futebol?
Reconheço que quando aceitei este desafio, uma parte da excitação e entusiasmo foi contrabalançada pelo sentimento de frustração por ter de, depois de entrar num meio tão competitivo e com tanta gente, sair desta forma tão agridoce.
Conto, e é uma ambição pessoal, voltar ao futebol. Mas espero que, quando regressar, o faça já com mais traquejo e experiência e que estas sejam os intermediários que me permitam posicionar a Fisioterapia como uma área na qual os stakeholders depositem mais investimento e, consequentemente, mais responsabilidade.
