Estudo de Caso - Ronaldo Nazário de Lima

15-05-2018

Nome: Ronaldo Nazário de Lima
Idade: 41 (retirado)
Naturalidade: Rio de Janeiro, Brasil
Nacionalidade: Brasileiro
Avançado destro de 1.82 m

"Era a perfeição física, uma espécie de criatura mítica.  Adoro o Lionel Messi, joguei muitas vezes com o Cristiano Ronaldo e admiro-o imenso, o Neymar é formidável e o Ronaldinho era excecional - mas se os puseres todos juntos, talvez conseguisses ter uma coisa parecida àquilo que foi Ronaldo nessa época"

Quinton Fortune sobre jogar contra Ronaldo em 96/97

Comecemos pela parte mais fácil. Ronaldo Nazário de Lima foi até 2014 o melhor marcador de sempre em fases finais de Campeonatos do Mundo. Ganhou duas Bolas de Ouro (prémio que premeia o melhor jogador de futebol do Mundo). Jogou quase 600 jogos oficiais por clubes e seleção. Em condições normais, as melhores carreiras dos melhores profissionais com mais longevidade podem perfeitamente não chegar a estes números. Porque abordamos Ronaldo?


A parte desportiva

Cruzeiro e PSV-Eindhoven

Ronaldo era absolutamente desconcertante. Iniciou a sua carreira profissional em 1993 com apenas 16 anos quando foi chamado aos séniores de um dos maiores clubes brasileiros, o Cruzeiro. Nesta mesma época, fez uns absurdos 44 golos em 47 jogos. Imediatamente o seu nome começou a circular e acabou por assinar pelo clube holandês PSV-Eindhoven.

Na primeira época na Holanda fez 30 golos no campeonato. Na segunda, devido a uma lesão no joelho, conseguiu apenas realizar 13 jogos, nos quais marcou 12 golos.


Barcelona

Ronaldo fintava toda a gente. Para além da estonteante capacidade técnica, o que nos interessa reter era a sua potência física. Muito veloz e muito forte fisicamente a tolerar as cargas dos adversários, Ronaldo conseguia, sozinho, ultrapassar uma equipa inteira.


No pico de forma física durante a sua estadia em Barcelona, Ronaldo marcou 34 golos em 37 jogos. Houve quem vaticinasse mesmo o regresso de Pelé através de Ronaldo.

Valdano, figura de proa do seu rival Real Madrid, chegou mesmo a dizer:

"Ele não é um homem, ele é uma manada"

a respeito das suas arrancadas imparáveis.


Com isto, Ronaldo venceu o seu primeiro prémio de Melhor Jogador do Mundo. Tinha 20 anos.


Lesões

Inter de Milão

Em 1996, o Barcelona tentou renovar o seu contrato até 2006! Não conseguiu e, após apenas uma época na Catalunha, transferia-se para Itália.

Em Itália continuou a sua brilhante carreira. 34 golos em 47 jogos, um ídolo da massa adepta, o mesmo avançado desconcertante mas ainda mais completo. Arrecadou o segundo prémio de Melhor Jogador do Mundo da sua carreira no ano de 1997.

Após ter estado no Campeonato do Mundo de 1994 (que o Brasil ganhou) com apenas 17 anos mas não ter jogado, aproximava-se agora o Campeonato do Mundo de 1998, e Ronaldo era a figura de destaque.


O Mundial de 1998

Uma boa fase de grupos, bem na fase a eliminar, e o Brasil de Ronaldo correspondia às expectativas.

Chegávamos ao maior palco de todos: a final do Campeonato do Mundo

Aparte das teorias da conspiração, é sabido que Ronaldo convulsou antes do jogo, saiu da ficha da equipa titular, e voltou a integrá-la a 20 minutos de jogo. Coincidência ou não, Ronaldo nem apareceu nessa partida.

Fosse pelo que fosse, Ronaldo havia de perder a final do Mundial, e a Bola de Ouro desse ano, para o francês Zidane.


O ano pós-Mundial foi para esquecer, por diversos fatores, ora pequenas tendinites, ora compromissos com patrocinadores ou seleção.

No inicio da época de 1999, num jogo para o campeonato contra o Lecce, começam os primeiros problemas para o astro brasileiro. Ronaldo sai a mancar e após avaliação descobre-se que fez uma rotura do tendão patelar esquerdo.

Durante 6 longos meses, o capitão de equipa e principal figura do futebol mundial esteve ausente a recuperar.

A 12 de April de 2000, uma data que ficou famosa entre os fãs de futebol, Ronaldo regressava contra a Lázio. Apenas 7 minutos depois de entrar em campo, Ronaldo ressente-se...

Há quem lhe chame o pior momento da história do futebol. É agonizante.

Rotura completa do tendão patelar do joelho direito. Corria o ano 2000 e a ciência não tem respostas para dar. Médicos vaticinam-lhe o fim de carreira.

 Ronaldo está acabado. 

Fica de fora durante toda a época de 2000/2001.

Tinha 23 anos.

Foi em Milão que a imprensa lhe atribui a alcunha pela qual ficou conhecido, o Fenómeno.


Mundial de 2002

No caminho para o Mundial de 2002 o Fenómeno Ronaldo faz apenas 16 jogos. É uma das grandes dúvidas, se estará apto para estar na lista do Brasil. O Brasil está contra, a imprensa duvida, os médicos estão descrentes. O próprio Ronaldo não está certo. O único que tem certezas é mesmo o seu selecionador nacional, Luiz Felipe Scolari

Ronaldo vai, contra tudo e contra todos. Romário, uma das estrelas do futebol brasileiro, é o preterido.




8 golos num Campeonato do Mundo, recorde até hoje.

2 golos na final contra os todo-poderosos alemães.

Campeão do Mundo.

Melhor Jogador do Mundo 2002, pela terceira vez na sua carreira.

Transfere-se para o Real Madrid.

"As lesões do Inter tiraram-lhe aquela explosão que fez dele o melhor jogador jovem de sempre. Mas isso não deve minorizar Ronaldo, que depois disso fez 8 golos num Campeonato do Mundo e recebeu uma ovação em pé de Old Trafford; contudo, é a memória dos seus tempos de jovem que põe um cisco no olho de homens feitos."

Rob Smyth, jornalista do The Guardian


A reinvenção

Nos 99 jogos que fez pelo Inter, Ronaldo fez muito mais que os 59 golos: inspirou crianças com as suas fintas, remates e passes e  inspirou homens adultos com a sua perseverança, ambição e resiliência.

Seguiam-se os galáticos do Real Madrid.


Real Madrid



O Ronaldo de outros tempos já era. A explosão, a velocidade e aquela potência indescritíveis abandonaram Ronaldo. O que ficou foi mesmo o talento puro, a determinação em ser bem-sucedido, e uma inteligência absolutamente ímpar.

Começou a temporada lesionado, mas nem por isso os adeptos refriaram o seu entusiasmo, quando em todos os jogos cantavam o seu nome.

Na sua estreia, bisou e recebeu uma ovação em pé do Santiago Bernabéu.

Em 2003, recebeu uma ovação em pé dos adeptos do Real Madrid e do Manchester United, após fazer um hattrick em Old Trafford e ser substituído.

Começaram a chegar os problemas com lesões e questões relacionadas com o seu peso, o que fez com que começasse a jogar cada vez menos.

Marcou 104 golos em 177 jogos que fez em quatro anos e meio, foi nomeado para a equipa do século e foi introduzido no Passeio da Fama de um dos clubes mais laureados do Mundo.


Fase descendente

AC Milan e Corinthians


Em 2007 Ronaldo transfere-se para o AC Milan, onde esteve durante um ano e meio. Durante este tempo fez 20 jogos e marcou 9 golos, números baixos devido à recorrência de lesões e da continuação dos seus problemas de peso excessivo.

A meio da sua segunda época, voltou a fazer rotura do tendão patelar, o que o obrigou a perder o resto da época.

Acabou por regressar à sua terra-natal para representar o Coritnhians, mas pouco mais foi do que adiar o inadiável. Ronaldo já não tinha condições...


A despedida

A 14 de Fevereiro de 2011, Ronaldo assume a despedida do futebol.

Nesta conferência de imprensa, Ronaldo reconhece sob lágrimas que gostaria muito de continuar, mas que o corpo já não lhe obedece. Aos 36 anos ouve-se pela primeira vez o atleta referir que sofria de hipotiroidismo, doença que desacelera o metabolismo. Este facto foi contudo negado pelo médico do Corinthians, fazendo com que, mais uma vez, Ronaldo gerasse polémica.

"Depois de mais uma lesão, eu refleti muito em casa e decidi que era o momento. Que não ia esperar mais e tinha realmente dado o máximo que eu nunca imaginei que poderia chegar. É muito duro abandonar o que te deixa feliz, tem tanto amor e poderia seguir porque mentalmente e psicologicamente ainda quero muito. Mas também tenho que assumir algumas derrotas. Eu perdi para o meu corpo."


A lesão, a resiliência mental, e o regresso à atividade

O que nos pode ensinar a carreira e a vida de Ronaldo?

Reportagem da FourFourTwo sobre o tempo entre 1998 e 2002 que medeia dois Campeonatos do Mundo e duas lesões graves do Fenómeno Ronaldo

  • A incidência de lesão, tendo sido afetado de forma mais severa e prolongada por duas vezes no joelho esquerdo e uma no joelho direito, transporta-nos para uma condição possivelmente sistémica.  Maior parte dos muitos problemas de lesão de Ronaldo, e em especial os mais graves, aconteceram ao nível do joelho, mais propriamente no tendão patelar.
  • O aparecimento deste tipo de problemas após o surgimento de um episódio controverso e que ainda hoje é uma das histórias por contar no futebol, faz-nos refletir acerca de que tipo de práticas podem estar escondidas nos bastidores do mundo do futebol, espelhando a importância da nossa prática deontológica.
  • A sugestão da existência de hipotiroidismo pode estar relacionada com o aparecimento de lesões? Isto alerta-nos para a necessidade de uma avaliação global quando nos deparamos com um atleta.
  • A pertinência das questões psicológicas para a reabilitação. Ronaldo viu a sua promissora carreira de jogador de futebol com um fim à vista. Lutou para regressar e foi sempre um indíviduo altamente determinado e com um foco pouco usual. Isso, para além de certamente o ajudar a recuperar de lesão, potenciou a que compreendesse os obstáculos que lhe iam surgindo, adaptando-se. Perdeu umas características, mas ganhou outras, mostrando que a resiliência mental é uma das mais importantes características no mundo do desporto.

Um jogador que segundo estudos seria hoje (de longe) o jogador mais valioso de sempre, que sofreu como poucos, ultrapassou as dificuldades e se reinventou, mantendo o sucesso  e assegurando que, apesar das lesões, estas não servem como desculpa e acabando como um dos melhores da história.

Idolatrado por grandes nomes do mundo do futebol...

... Ronaldo está nos 100 melhores jogadores de futebol e no melhor 11 de sempre para a FIFA.

Um caso de superação que só faz sentido abordar também do ponto de vista clínico.


A banda sonora deste estudo de caso foi-nos trazida por Marcelo D2.

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