A Filosofia na Fisioterapia
É bem discutido, e é um cliché comum, que quanto mais soubermos de várias disciplinas, mais saberemos da nossa. Será que este cliché se aplica também à Filosofia? E se sim, porquê? E como?
Filosofia é uma disciplina que etimiologicamente significa a simpatia ou o agrado pela arte de ter ou obter conhecimento. Esta ganhou visibilidade particularmente na Grécia Antiga, tendo ainda assim alguma influência nos séculos subsequentes, e discutia-se que a sua utilidade era ensinar a viver (e morrer) melhor.
Mas como pode o conhecimento em Filosofia ensinar-nos, ou guiar-nos, a ser melhores fisioterapeutas? Será que se dá esta transferência de competências para a nossa área? E se sim, como? E de quais?
Filosofia - Para quê?
A Fisioterapia é uma disciplina baseada em Evidência Científica. Continuamente, usamo-lo para defender a validade da nossa atuação e esse facto sustenta de sobreforma a nossa utilidade e o nosso corpo de competências.
A Ciência na qual nos baseamos tem um pressuposto muito simples: dar-nos, com a maior fiabilidade possível, as respostas que queremos e procuramos. Enquanto área que se baseia na Evidência Científica, podemos dizer que temos a Ciência do nosso lado.
Se a Ciência é então responsável por nos dar as respostas... A Filosofia é responsável por nos ensinar a fazer as perguntas.
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Filósofos e respetivas linhas de pensamento
De forma a percebermos se, e de que forma, estes pensadores nos poderão ajudar a chegar a algumas conclusões, foram seleccionadas algumas abordagens, doutrinas e ensinamentos que poderão ser transferíveis para a prática, técnica e não-técnica, da Fisioterapia.
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Platão
Platão é considerado o pai da Filosofia Moderna Ocidental. Autor de uma série de obras, é largamente conhecido pela representaçao de Sócrates, seu amigo mais velho, sobre quem redigiu uma série de ensaios nos quais relatava os seus diálogos.
Platão abordou largamente a forma como o ser humano pode tirar sentido de realização da sua vida. A mensagem principal que ele passa é a de que o auto-conhecimento é a chave para a perceção de realização pessoal.
De forma breve, há duas obras de Platão de particular interesse nesta análise: A Alegoria da Caverna e As Formas.
- Na primeira, este aborda os acontecimentos que levam um indivíduo que adquire mais conhecimento que os restantes a ser ostracizado: um grupo de indivíduos vive num gruta sem luz onde apenas consegue ver a sombra projetada dos intervenientes que vivem à nossa volta (pessoas, animais, plantas, etc.). Quando um deles consegue escapar à escuridão e sair da caverna, tem uma realidade diferente do mundo, que ambiciona contar aos restantes. Para isto, retorna à caverna mas, quando partilha a aventura com os restantes, estes encaram os relatos com cinismo e planeiam matá-lo.
- Na segunda, ele reflete sobre como se deve proceder de forma a ser-se bem-sucedido em algo. Ele propõe que, após obtermos o conhecimento, devemos perspetivar "a forma" perfeita dessa coisa; por exemplo, se queremos ser bem sucedidos enquanto fisioterapeutas no desporto, devemos primeiro pensar em como é o fisioterapeuta no desporto perfeito. Se após atingirmos esse estado não formos de facto perfeitos, deveremos aprofundar o nosso conhecimento, e recomeçar o processo.
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Platão na Fisioterapia:
Sócrates
Sócrates foi então, segundo Platão, o mais influente filósofo do seu tempo. Este foi particularmente importante, entre outras coisas, na retórica pela proposta do Método Socrático: este consiste em, humildemente (ou nem tanto), reconhecer-se que não se detem todo o conhecimento (Só sei que nada sei), e procurar saber-se o argumento do interlocutor, estando assim em vantagem para depois o descontruir e argumentar de forma a que fosse o próprio a aperceber-se da falabilidade do seu argumento. Para além disso, também propôs a Discussão Socrática, um método de auto ou hetero-inquisição com o intuito de promover o auto-conhecimento.
Sócrates na Fisioterapia:
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Aristóteles
Aristóteles é hoje considerado o filósofo mais proficiente de sempre, com uma série de pensamentos que são ainda hoje transmitidos em muitas formas educativas.
Tal como Platão, seu mentor, Aristóteles procurou capacitar as pessoas de formas de medir a sua felicidade e sentido de realização, para além de pretender que elas se capacitassem que estes sentimentos eram obtidos através da sua expressão de inteligência e cultura.
Aristóteles na Fisioterapia:
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Epicúrio
Epicúrio é um filósofo que tem implicações importantes em correntes de pensamento que, hoje não tendo expressão real, têm uma expressão ideológica ainda profundamente vincada - foi nele que se baseou Carl Marx na sua tese de doutoramento.
De forma breve, Epicúrio remete a importância que damos ao dinheiro e aos bens materiais para secundário, e procura sugerir que, aquilo que atribui valor, é o significado das relações humanas. As atuais repúblicas baseiam-se na crença de Epicúrio de que o que era necessário para atingir a felicidade era muito mais rodearmo-nos de bons amigos do que ter dinheiro para gastar.
Epicúrio na Fisioterapia:
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Descartes
Descartes é um dos primeiros filósofos que se pode dizer procura respostas concretas na Filosofia, ou pelo menos que as considera como atingíveis por vias mais viáveis que o intelecto. Através d'O Método, Descartes considera que a congição e a procura sistemática de respostas faz parte da forma como devemos pensar sobre o Mundo em que vivemos.
Descartes na Fisioterapia:
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La Rochefoucauld
La Rochefocauld é um dos filósofos mais curiosos, uma vez que era extremamente bem-sucedido sob todos os parâmetros, à exceção do amor. Na verdade, o facto de que ainda que fosse considerado bonito aliado à sua incapacidade de impressionar o sexo oposto fez com este elaborasse as Máximas de La Rochefoucauld: uma série de frases que primavam pelo seu primeiro impacto. Ele apercebeu-se que, num mundo, com tanto ruído, o ideal era captar a atenção com algo marcante, ao invés de com algo necessariamente verdadeiro.
La Rochefoucauld na Fisioterapia:
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Michel de Montaigne
Michel de Montaigne foi quase um comediante dentro da Filosofia. No fundo, Montaigne recomendava às pessoas que, a bem da verdade, não deveriam ser tão auto-críticas e que como, diria Sartre, quase nem tudo é o que parece... nomeadamente quando nos martirizamos. "O rei do reino mais rico quando se senta na sanita mais cara do mundo... Continua sentado numa sanita".
Michel de Montaigne na Fisioterapia:
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Estoicismo
O Estoicismo na Fisioterapia:
Conclusão
Pois bem... Para utilizar a Filosofia no quotidiano e na racionalidade da Fisioterapia, basta então conhecermo-nos melhor como pedia Platão, aprendermos a desconstruir crenças como Sócrates, utilizar a retórica de Aristóteles para criar empatia, desvalorizar o dinheiro como Epicúrio, utilizar o raciocínio como Descartes, simplificar como La Rochefoucauld, sermos apaziguadores com a graciosidade de Michel de Montaigne, e corajosos e fortes como os Estoicistas...
Fácil, não é?
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